Síndrome do Membro Fantasma
Segundo
especialistas é um curioso evento neurológico. Quem não assistiu e se comoveu
com a história do rapaz que teve seu braço amputado em um assistente na Avenida
Paulista? Segundo relatos, a impressão do rapaz de que o membro ainda estava lá
em seu corpo era bastante intensa e real. Na verdade, essa impressão pode
perdurar por meses, anos, ou até pela vida inteira. Mas, qual será a explicação
científica para esse fenômeno e quais os desconfortos que ele pode trazer?
Segundo o neurologista Leandro Teles, formado e especializado
pela USP:
“Existe um conflito entre a perda
anatômica, a imagem corporal cerebral, a memória sensitiva e aspectos
psíquicos. O membro sai do corpo, mas não sai do cérebro, isso pode gerar o
aparecimento do membro fantasma, algum desconforto e até dores crônicas de
difícil tratamento”.
O
cérebro humano possui um mapa corporal definido, cada parte do corpo tem uma
localização específica no cérebro. Esse mapa é conhecido como homúnculo, temos
um mapa motor e outro sensitivo. Um membro recebe instruções motoras do cérebro
através da medula e dos nervos, da mesma forma que comunica questões sensitivas
ao cérebro pelos nervos e pela medula. A perda do membro não destrói
integralmente esse caminho neurológico, o cérebro enxerga visualmente que o
braço não está lá, mas recebe informações sensoriais que viriam daquele sítio.
Para agravar ainda mais a condição o cérebro está recheado de memórias prévias
a amputação e a pessoa pode até sonhar com o membro íntegro.
“É como esse desconectássemos
uma impressora do computador cortando seus fios. Para o computador, a
impressora continua instalada e sua porta de entrada, ocupada. Por isso ele
continuará tentando utilizá-la, o que gerará mensagens de erro. ”
Com
relação aos sintomas, o paciente amputado pode perceber continuamente como se o
membro estivesse lá. Alguns referem o sintoma apenas de vez em quando. Uns
descrevem como se o membro estivesse parado, estático, muitas vezes na posição
que estava na hora da perda, enquanto outros descrevem até sensação de
movimento. Podem ocorrer reflexos como tentar retirar o membro inexistente
quando algo passa perto ou algum desconforto quando se coloca em posição que
pudesse causar dano ao membro.
Além da percepção do membro fantasma, também pode surgir a
temida dor do membro fantasma. Segundo Teles:
“A percepção do membro é uma
coisa, a dor cônica nesse membro, outra. A dor no membro fantasma tem determinantes
cerebrais, psíquicos, alteração do nervo no local do coto, memória de dor
previa a amputação, fatores medulares, adaptação a órtese, etc. Como podemos
ver a causa é multifatorial e o tratamento também deve ser abrangente e
personalizado”.
O membro fantasma é mais um exemplo
da fascinante e complexa engrenagem neurológica do ser humano. Sendo um efeito
colateral eventual da luta adaptativa que nos mostra extraordinários exemplo de
superação e força de vontade.
Neurologista Leandro Teles
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