Vygotsky concebe o homem como
um ser social, enquadrando-o no que chama de macrossocial, o qual poderá
interferir em seu comportamento humano, sendo o indivíduo formado pelo
entrelaçamento de duas linhas distintas: uma de origem biológica e outra de
origem sociocultural. A primeira seriam aquelas características biologicamente
definidas para todos os seres humanos, enquanto que as de ordem sociocultural
estariam relacionadas aos aspectos apreendidos e cristalizados no comportamento
humano durante os processos de trocas mediatizadas com os outros, por meio da
linguagem. (REGO,
1996).
Segundo Vygotsky
(1989), a criança se apropria do mundo se constrói como indivíduo,
libertando-se, pouco a pouco, da prisão do determinismo biológico e tomando
posse das possibilidades de ação independente. No contato social do homem, entra em cena a questão da
mediação simbólica como uma característica da relação do indivíduo com o mundo e
com os outros de sua espécie. Isto é, as interações sociais fornecem
instrumentos e símbolos carregados de cultura, os quais fazem a mediação do
indivíduo com o mundo, proporcionando-lhe elementos para a formação dos
mecanismos psicológicos, fundamentais para as aprendizagens e o
desenvolvimento.
Vygotsky (1989) elabora ainda
uma teoria acerca dos processos de aprendizagem e desenvolvimento, conhecidas
como NDR, NDP e ZDP. Na NDR (Nível de Desenvolvimento Real) considera-se a
bagagem do aprendiz; na NDP (Nível de Desenvolvimento Potencial) computa-se
aquilo que o aprendiz consegue realizar com a ajuda de outras pessoas mais
experientes; na ZDP (Zona de Desenvolvimento Potencial ou Proximal) inscrevem-se
as funções que ainda não estão maduras, mas estão em processo de
amadurecimento, porém presentes e quase prontas para nascerem. (REGO, 1996). Desta
forma, cabe ao psicopedagogo ser o mediador, o provocador de conflitos, o
estimulador, argumentador e propiciador de todos os recursos necessários para o
desenvolvimento do aprendiz.
Segundo Lakomy (2008, p. 45), pela
mediação o aluno se torna um sujeito ativo na construção do seu conhecimento
por meio da sua interação com o mundo físico e social que o rodeia. Grassi
(2008, p. 20) afirma que o psicopedagogo, enquanto mediador, “exerce um papel
fundamental, ativo e dinâmico, levando os sujeitos que participam da oficina a
agir, pensar e sentir, também de modo ativo e dinâmico, estimulando o alcance
da autonomia”.
A escola, por sua vez, é o
lugar onde é socializada a vivência de todos que ali convivem (alunos,
professores, funcionários), tornando-se o ambiente escolar um espaço
privilegiado para a interação social, trocas de saberes já adquiridos com novas
experiências. Vygotsky (1989), ao considerar a escola um lugar propício para o
desenvolvimento e aprendizagem do indivíduo, distingue dois tipos de saberes:
os conceitos cotidianos ou espontâneos – conhecimentos que a criança obtém por
meio de suas experiências – e o conhecimento científico – conhecimentos
alcançados por meio da ação sistemática da escola ou de estudos científicos. (REGO, 1996).
Os estudos de Vygotsky
reorientaram a prática escolar, uma vez que durante muito tempo, a escola se
colocou isenta de qualquer responsabilidade em relação ao fracasso escolar.
Esta vertente social está presente na interpretação realizada por Rego (1996)
para quem no processo histórico-cultural a formação intelectual do indivíduo é
resultado da interação constante e ininterrupta entre ações internas e influências
do meio social. O psicopedagogo assume, assim,
o papel de mediador no processo ensino-aprendizagem sugerindo desafios aos
alunos e auxiliando-os na resolução dos problemas propostos, com o objetivo de
fazê-los avançar no seu nível de desenvolvimento. A mediação do professor deve
situar-se na ZDP, ou seja, entre aquilo que o aprendiz consegue realizar
sozinho (NDR) e o que ele é capaz de fazer por meio do auxílio de outros mais
experientes (NDP).
A psicopedagogia necessita
caminhar atrelada às pesquisas da aprendizagem, considerando as demandas dos
alunos para que melhor atuar junto às dificuldades apresentadas pela criança.
Em seu livro “Teorias Cognitivas da Aprendizagem”, Ana Maria Lakomy cita a
aprendizagem significativa defendida por David Ausubel. Por esta vertente, o
educador precisa partir dos conhecimentos que podem ser extraídos do cotidiano
da criança, facilitando a compreensão de sua realidade e abrindo novas
perspectivas para o pensamento. (LAKOMY, 2008).
Lakomy ainda menciona Wallon
a afetividade e a inteligência desenvolvem-se juntas desde o primeiro ano de vida
da criança. Desta forma, Wallon defendeu a importância da escola no que concerne
ao desenvolvimento afetivo e social da criança, pois a ela são dadas maiores oportunidades
de convivência com outras crianças.
Segundo Wallon, “a confrontação
com os companheiros permite-lhe constatar que é uma entre outras crianças e que,
ao mesmo tempo, é igual e diferente delas” (apud LAKOMY, 2008). Portanto, a escola
deve considerar os níveis do desenvolvimento cognitivo da criança, procurando compreender
os comportamentos e capacidades predominantes em cada etapa e ao que eles visam,
a fim de melhor orientar a ação educativa. É preciso, pois, respeitar as capacidades
cognitivas, bem como as necessidades afetivas da criança para que os conhecimentos
apresentados sejam assimilados e utilizados mais tarde.
Ao psicopedagogo, as teorias
Ausubel e Wallon recomendam a identificação da capacidade de considerar as diferentes
fases do desenvolvimento cognitivo da criança para tirar melhor proveito no processo
ensino-aprendizagem; perceber que a motivação, a curiosidade e a vontade de cooperar
são importantes para a aquisição de competências, trabalhos em grupo e outras atividades;
estimular o desejo pela pesquisa, peculiar a todos os seres humanos, por meio de
práticas complexas e interativas; desenvolver competências para utilizar a aprendizagem
significativa em detrimento da aprendizagem mecânica [1]; perceber
que a afetividade é parte importante e integrante do processo de aprendizagem, já
que ela acompanha o desenvolvimento cognitivo da criança.
Assim sendo, o psicopedagogo
deve ser um profissional que tem conhecimentos multidisciplinares, pois em um processo
de avaliação diagnóstica, é necessário estabelecer e interpretar dados em várias
áreas. O conhecimento dessas áreas fará com que o profissional compreenda o quadro
diagnóstico do aprendente e favorecerá a escolha da metodologia mais adequada, ou
seja, o processo corretor, com vista à superação das inadequações do aprendente.
(VEIGA, 2011).
Nesse caso, concluímos que
a psicopedagogia deve ser compreendida como área de estudo interdisciplinar, que
abrange diferentes áreas de conhecimento e cujo campo de atuação vem a ser identificado
por meio do processo de aprendizagem, como forma de intervir nas dificuldades
de aprendizagem dos alunos.
Aparecida S. Delgado
Pedagoga / Psicopedagoga /
Neuropedagoga
[1] Aquela que não é capaz de
relacionar o conteúdo da poesia com algum conhecimento que já possui na sua
estrutura cognitiva e, assim, efetuar uma nova aprendizagem (LAKOMY, 2008, p.
63).
Comentários
Postar um comentário